SUSSURROS E EXALAÇÕES

(por Altino Borba)

"... e as árvores afagadas pela fresca 'viração', balouçavam as copas SUSSURRANDO brandamente" (Rebelo da Silva).

"Pairava no ar um doce perfume, como o que EXALAM os campos na primavera". (Coelho Neto).

Foi alguns instantes, na noite de 26 de outubro o recinto do "Studyo Shenzalla" colocou em silêncio respeitoso o clamor alegre e barulhento da música jovem, enquanto um genio misterioso substituia o pisaca pisca das luzes psicodélicas pela suavidade de um luar encantador.

Algo de sublimidade espiritual se concentrou no ambiente transportando para o salão festivo um contubérnio de corações palpitantes e de almas em recolhimento. A magia do faz de conta e a sintonia das divagações, que tornam livre o pensamento propiciaram a todos o direito de se sentirem como assistentes e figurantes de um lindo desfile de sonhos e fantasias .

Todos se viram envolvidos aos acordes da fascinação, pelos eflúvios da mais elevada celebração literária, com blandícias de carinhos e de ternuras, porque uma linda jovem  se propunha a raro cometimento para os dias de hoje, sussurrando ternamente a sua poesia maravilhosa, fazendo pairar doces perfumes no ar - "como os que exalam os campos na primavera"!

A anfitriã - Aninha Caligiuri - escreveu e enfeixou num livrinho azul os poemas que brotaram do seu arrebatamento artístico, usando as imagens repousantes no seu íntimo de saudade e exteriorizando mensagens gratificantes, intercaladas do mais delicado sentido humano.

Impresso o relicário, garimpo de gemas preciosas, impunha-se o lançamento público, em condizente noitada de autógrafos, com antecipado programa explicativo de que "o propósito maior e verdadeiro" seria o de prestar, na ocasião, homenagem a Associação Norte Paranaense de Reabilitação, a entidade que cuida com tanto carinho das crianças excepcionais.

Em tudo a distinta poetisa estreante foi cumulada de felicidades desde a escolha do seu padrinho literário - o ilustre professor Ari de Lima - até a destinação da renda dos volumes vendidos, e, bem assim pelas dedicatórias contidas no espoucar das suas luzes de dulcíssimo esplendor.

A solenidade foi abrilhantada com a presença da Da. Branca de Camargo Vieira, representando a si mesma como primeira dama do município eo seu esposo , o Prefeito João Paulino , tendo sido aberta com rara elegância pelo professor José Joaquim da Cruz Filho, dinâmico Secretário de Turismo e Cultura de Maringá.

Quando a tertulia chegou ao fim, os convidados foram saindo impregnados do êxtase supremo da criação poética, e lá fora, depararam com as árvores afagadas pela fresca viração, balouçando as copas e mesmo que sussurrando brandamente os poemas da Aninha Caligiuri.

Nesta fase da vida agitada e agressiva que o mundo transpõe, sem muito respeito as belas coisas do espírito devemos nos congratular com as criaturas que conseguem - como a autora atravessar esse labirinto estranho - as vezes tão misterioso, as veze tão solitário, as vezes tão alegre, as vezes tão cheio de paz, e, as vezes tão insuportável de aguentar os eflúvios machucantes que caminham para o aprimoramento" - usando as próprias expressões e emoções da bem inspirada Aninha Caligiuri.

Quanto sentimento elevado ela nos transmite a título de orientação na escalada do monte alvorescente. - "Ouçam os sopros gélidos que conduzem as brisas cheias de perfume inebriante, dedilhando nas floragens rebuscadas de sóis, vencendo a caminhada, escorregando nos escombros e renascendo nas exalações".

Vale a pena ler e reler o livrinho da jovem poetisa que não concorre a nenhum premio de belas letras, mas simplesmente oferece - até aos velhos menestréis, como nós - algo de muito precioso no santuário das belas imagens comovendo velhos românticos e soprando uma claridade despertadora na alma da juventude contemporânea.

ALTINO BORBA

Escritor, in memoriam. 

*Publicado na FOLHA DO NORTE DO PARANÁ

Maringá, quarta-feira, 01 de Novembro de 1978. Página 5.